segunda-feira, 9 de junho de 2014

É FÁCIL AMAR



"É fácil amar o outro na mesa de bar, 
quando o papo é leve, o riso é farto, 
e o chopp é gelado. Nos cafés, após o cinema, 
quando se pode filosofar sobre o enredo e as 
personagens com fluência, um bom cappuccino e 
pão de queijo quentinho. Nos corredores dos shoppings, 
quando se divide os novos sonhos de consumo, 
imediato ou futuro. Difícil é amar quando o outro desaba. 
Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. 
E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. 
A identidade. E fala o tempo todo do seu drama com a mesma mágoa. 
Difícil é amar quando já não encontramos motivos 
que justifiquem o nosso amor. Difícil amar quando a 
dor do outro é tão intensa que a gente não sabe o que 
fazer para ajudar. Quando ele parece ter desistido 
principalmente dele próprio. Difícil é amar quando 
o outro nos inquieta. Quando os seus medos denunciam 
os nossos e põem em risco o propósito que muitas vezes 
alimentamos de não demonstrar fragilidade. 
Quando a exibição das suas dores expõe, 
de alguma forma, também as nossas, as conhecidas e as anônimas. 
Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, 
exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, 
da nossa rigidez, para caminhar ao seu encontro. 
Difícil é amar quando o outro repete o filme incontáveis 
vezes e a gente não aguenta mais a trilha sonora. 
Quando se enreda nos vícios da forma mais grosseira e 
caminha pela vida como uma estrela doída que ignora o próprio brilho. 
Quando se tranca na própria tristeza com o aparente conforto de 
quem passa um feriadão à beira-mar. Quando sua autoestima 
chega a um nível tão lastimável que, com sutileza ou não, 
afasta as pessoas que acreditam nele. Nessas horas é que 
se vê o verdadeiro amor, aquele que é companheiro, 
que quer o bem acima de qualquer coisa. E é esse o amor 
que dura para sempre. Na verdade, 
este é o único que pode ser chamado de amor."

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