"É fácil amar o outro na mesa de bar,
quando o papo é leve, o riso é farto,
e o chopp é gelado. Nos cafés, após o cinema,
quando se pode filosofar sobre o enredo e as
personagens com fluência, um bom cappuccino e
pão de queijo quentinho. Nos corredores dos shoppings,
quando se divide os novos sonhos de consumo,
imediato ou futuro. Difícil é amar quando o outro desaba.
Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado.
E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo.
A identidade. E fala o tempo todo do seu drama com a mesma mágoa.
Difícil é amar quando já não encontramos motivos
que justifiquem o nosso amor. Difícil amar quando a
dor do outro é tão intensa que a gente não sabe o que
fazer para ajudar. Quando ele parece ter desistido
principalmente dele próprio. Difícil é amar quando
o outro nos inquieta. Quando os seus medos denunciam
os nossos e põem em risco o propósito que muitas vezes
alimentamos de não demonstrar fragilidade.
Quando a exibição das suas dores expõe,
de alguma forma, também as nossas, as conhecidas e as anônimas.
Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não,
exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego,
da nossa rigidez, para caminhar ao seu encontro.
Difícil é amar quando o outro repete o filme incontáveis
vezes e a gente não aguenta mais a trilha sonora.
Quando se enreda nos vícios da forma mais grosseira e
caminha pela vida como uma estrela doída que ignora o próprio brilho.
Quando se tranca na própria tristeza com o aparente conforto de
quem passa um feriadão à beira-mar. Quando sua autoestima
chega a um nível tão lastimável que, com sutileza ou não,
afasta as pessoas que acreditam nele. Nessas horas é que
se vê o verdadeiro amor, aquele que é companheiro,
que quer o bem acima de qualquer coisa. E é esse o amor
que dura para sempre. Na verdade,
este é o único que pode ser chamado de amor."
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