“Naquela noite me bateu uma enorme vontade de viver,
de sair pelas ruas acompanhado da solidão e das estrelas,
enquanto caminhava em direção ao nada, ao abismo,
mas aí percebi que a noite estava fria, e o céu sem estrelas,
então voltei para cama, me cobri até a cabeça e comecei
a pensar na vida e no futuro, o futuro me persegue mais
que o passado, pra ser sincero tenho medo dele,
medo do me espera lá na frente, medo da solidão interna e externa,
medo de que esse vazio que hoje há dentro de mim
jamais se preencha. Em noites como essa meu anseio
pela vida cresce e meu desejo de receber todos os
afetos do mundo também, quero fazer tudo isso valer a pena,
dar orgulho a essa alma bastarda que fez de mim seu lar,
quero olhar para o espelho daqui cinquenta anos e se orgulhar
do passado, mas quando ligo a tv, leio os jornais ou
simplesmente saio pela minha porta me deparo com o mundo,
e aí me bate aquela vontade de correr para debaixo da
coberta e ali ficar, acompanhado de meus torturantes pensamentos.”